A obra de arte adquire independência em relação ao artista a partir do instante em que entra no mundo representando o próprio mundo, ganhando uma vida própria. Esta consiste justamente na independência em relação às motivações do artista ao criá-la, sejam políticas, éticas, econômicas etc. Assim liberta é que a obra suscita em nós essa mesma liberdade em relação a todas essas motivações que nós próprios temos cotidianamente (e isto é a sublimação que a contemplação estética nos proporciona).
Essa contemplação, porém, pode ser mais do que estética, pode ser interessada, pode causar em mim sentimentos de revolta, pode me levar a querer sair às ruas em passeatas, pode me ensinar um modo de me relacionar com as outras pessoas; mas esse engajamento prático ou político não pertence à obra de arte e sim ao seu contemplador.
O que é uma obra de arte? É um inutensílio, como disse um poeta. Não serve para nada, apenas revela o mundo em um sentimento.
Guernica, de Picasso, revela o terror, e só isso: essa é a pureza da arte, não ser engajada, embora os artistas e contempladores possam sê-lo, usando Guernica como instrumento para isso. Este uso, no entanto, é sempre secundário e ele próprio não define nenhum tipo de arte.
A arte como tal só quer representar, nascer, desabrochar, aparecer, abrir o mundo, não mudá-lo. Os artistas é que podem, representando-o artisticamente, querer mudá-lo, e essa mudança não é artística.