sexta-feira, 6 de agosto de 2010

A feiúra na arte


Rostos de uma série que inventei, a série 'rostos feios'.
É interessante nos perguntarmos por que a estética é em geral definida não só como o ramo da filosofia que se atém aos questionamentos sobre em que consiste a obra de arte, mas também sobre o belo. Alguns filósofos ainda são inclinados a pensar que o feio deva ser representado belamente. É muito estranho que o feio, uma vez sendo o oposto do belo, não mereça a mesma importância que ele. É porque não nos causa prazer? É por isso que ele tem que ser representado belamente, para que não tenhamos nojo de mantermos contato com a obra? É porque ele nos lembra a decrepitude e a morte? É porque o feio representa um sentimento deteriorado, incapaz de suscitar a sublimação, a purificação, por um instante que seja, o esquecimento repentino de nossos desejos e aversões?

Não me parece. Me parece que, ao contrário, as estéticas que esquecem o feio denunciam a sua falta de sublimação, denunciam que estão presas a desejos que querem negar. A sublimação não consiste na negação dos desejos, dos instintos que se acendem defronte a forma bela, mas no seu reconhecimento mais íntimo. Essas estéticas grostescas do belo esquecem que nenhuma obra de arte pode ser bela, assim como nenhuma pode ser feia, e por isso nenhuma pode ser reprovada por nos causar nojo. Ao contrário: elas não são nada, não são ninguém, são apenas uma superfície pela qual se avista o belo, o feio, o nojento, o agradável ou o que você queira. E quanto mais nítida e imperceptível essa superfície, melhor se pode ver o fundo que ela encerra, e o fundo que ela encerra é moldado pelas intenções do artista.

Recalcar a feiúra, tentar escondê-la não poderão, sob o risco de deteriorarem a beleza. Transformaram a beleza nessa coisa idiota e isolada. A feiúra na beleza, a beleza que há na feiúra, e ver de uma vez por todas como elas se complementam como o vale e a montanha.

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